Quem somos
O Criosfera 1 é a plataforma de dados mais remota do Brasil e uma das únicas totalmente automatizadas instalada e operacional no Centro da Antártica, localizado nas coordenadas 84°00'S – 79°30'W, 1.200 m a.s.l., (420 km da Geleira Union nas Montanhas Ellsworths, 670 km do Polo Sul e 2500 km da Estação Antártica Comandante Ferraz). Esta plataforma foi estabelecida no verão 2011/2012 através de uma iniciativa pioneira do MCTIC e PROANTAR/CNPq (https://www.criosfera1.com/). O Criosfera 1 é o resultado de 30 anos de pesquisa e aprendizado dentro do Programa Antártico Brasileiro; sua concepção estrutural é o estado da arte dos módulos de pesquisa polar, tendo sido projetado pela Uerj e construído na Sueca pela empresa especializada Berco. Até a presente data, são partícipes como usuários do Criosfera 1, a Uerj, UFRGS, INPE, USP, UFPR, CBPF e INMET. A plataforma de pesquisa gera ininterruptamente dados meteorológicos com sensores redundantes, dados sobre deposicao de neve em tempo real a partir de um sensor sonico instalado 2 m acima da superficie, possue sistemas amostradores e integradores para aerossóis atmosféricos, um detector de raios cósmicos (fluxo de muons), sensores de CO2 e Ozonio de superficie, radiometro para radiação solar global, para as radiacoes UV-A e UV-B e um aethalometro que mede em resolucao horária “black carbon” e “organic carbon”, além de dar apoio as realizações de testemunhos de gelo visando estudos paleoclimáticos e uma limpa para processamento de neve e gelo visando analises moleculares para estudos de aerobiologia. O Criosfera 1 é totalmente mantida por painéis solares que geram toda sua energia no verão entre início de novembro e final de março e por mini-turbinas eólicas verticais e horizontais que durante o inverno polar, na ausencia de luz solar duração 24h, mantém a energia da plataforma científica. Todos os dados do Criosfera 1 (os dados científicos e os dados de controle de energia e sistemas de baterias) são transmitidos pelo sistema ARGOS, recebidos e pré-processados no INMET (http://vitral.inmet.gov.br) e Uerj quando então ficam disponíveis para toda a comunidade científica (https://www.criosfera1.com/). O banco de dados histórico do Criosfera 1 pode ser acessado pelo SCAR METreader (https://legacy.bas.ac.uk/met/READER/ANTARCTIC_METEOROLOGICAL_DATA/SURFACE/ surface_index.html) e pela plataforma PANGEA. O Criosfera 1 está oficialmente ligado ao COMNAP (The Council of Managers of National Antarctic Programs) (https://www.comnap.aq/antarctic-facilities-information), sua aquisição ocorreu através do projeto “O Papel dos Aerossóis nos Processos Biogeoquímicos e nas Alterações Climáticas no Trecho Atlântico Sul – Península Antártica” / processo: 556971/2009-4; Edital/Chamada: Edital MCT/CNPq nº 23/2009 – PROANTAR, sob a responsabilidade do Prof. Heitor Evangelista-Uerj. O Criosfera 1 permitiu que equipes nacionais realizassem pela primeira vez pesquisas no interior da Antártica (um continente de 13,6 km2), ação essencial nas áreas das Geociências (Geologia, Geofísica, Glaciologia). Permitiu também o envolvimento de cientistas brasileiros no monitoramento e montagem de cenários sobre a evolução do manto de gelo antártico (onde concentra-se 90% do gelo do Planeta) e as consequências para o nível médios dos mares no caso de derretimento parcial (o que evidentemente tem impacto na costa brasileira). Finalmente, permitiu a execução de estudos de testemunhos de sondagem de gelo, a técnica mais avançada na reconstrução da variabilidade climática no passado. A temperatura do ar no Criosfera 1 varia de -10 °C no verão a -50 °C no inverno, atingindo extremos de -4,5 °C a -55 °C, respectivamente. A intensidade do vento muda sazonalmente atingindo máximos no inverno de 25 m s-1. Sua localidade recebe influência direta de massa de ar do Planalto Antártico por ventos catabáticos (Parish & Bromwich, 2007) e frequentes advecções de ar do Setor Leste do Mar de Weddell, Oceano Índico, Terra de Queen Maud e Península Antártica. A partir de análises das variabilidades de íons Na+ e sulfato não marinho (nss-SO42-) em um testemunho de gelo coletado no Criosfera 1, estimou-se um acúmulo de neve de 52 cm/ano para a localidade. Paralelamente, uma estimativa baseada no sensor acústico in situ Campbell Scientific, SR50A, forneceu acumulação anual média de neve de 43 cm/ano para o período 2013 a 2020.
Ao longo dos últimos anos, importantes instituições brasileiras tem agregado esforços e contribuído para o fortalecimento da ciência no Criosfera 1, com experimentos científicos de relevância nas áreas de Física de alta energia (CBPF), química da atmosfera (UFPR), aerobiologia (Museu Nacional/UFRJ), microbiologia de gelo (USP) e meteorologia polar (INMET).
Razões para se investir na pesquisa antártica ?
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No gelo do continente antártico está preservado, em alta resolução, parte da informação pretérita relativa as alterações ambientais, as mudanças do clima e o impacto humano que ocorreram no Hemisfério Sul e, especialmente na América do Sul, nas escalas de tempo decadal, centenal e milenar. Estudar o gelo da Antártica é compreender melhor parte da nossa história e as tendências do clima no Brasil nas futuras gerações;
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A elevação do nível do mar está diretamente relacionada com a questão antártica. Desta forma, contribuir para o conhecimento desta variável e estar engajado neste contexto científico nos torna mais capazes de avaliar suas conseqüências para o Brasil mediante vários cenários possíveis;
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O gelo antártico é uma matriz biotecnológica de enorme potencial. Estudar a microbiologia antártica é estar na vanguarda sobre novos produtos que possam contribuir futuramente para o desenvolvimento da medicina e suas áreas afins.